Quem Disse Que a Alma Não Existe
Luciano Menezes
E a noite chegava mansamente.
Era a única vez em que não escrevia pra voce.
Os dedos... Ah!
Os dedos não conseguiam acompanhar o pensamento.
A mente só andava em círculos:
sempre e sempre.
Chovia e o barulho era ensurdecedor.
Agora, nada mais tinha nenhum significado.
A coberta não impedia o frio.
A janela fechada não detinha a água.
E os papéis...
Os papéis no chão - viravam barcos a deslizar,
num riacho sem fim, que encharcava a sala.
Era demais, era muita água...
e de onde vinha tudo isso?
E na vitrola o disco rodava...
rodava...
e a mente só agora entendia a Ana Carolina:
“... a lágrima não é só de quem chora ...”
E a água jorrava,
descia pelas escadas,
escorria pelas paredes,
mas os olhos...
os olhos ardiam...
pois estavam secos.
E a água não parava,
cada vez mais volumosa,
insinuante,
escorrendo,
encharcando tudo,
levando tudo embora,
arrastando tudo que encontrava.
... e eu ali parado...
olhando...
e vendo a minha alma indo embora.
O Brasil Real 2018!
Há 6 anos